Olá queridas, esses dias eu estava ouvindo as minhas sobrinhas pré-adolescentes comentarem sobre uma coleguinha da escola que é “toda esquisita” e “tem um cabelo feio”. Aparentemente a menina não tem amigas e não conversa com ninguém. Fiquei pensando como é difícil ser adolescente e que quando o Serginho chegar nessa fase (ou mesmo antes) também vai ter que lidar com coisas chatas como panelinhas e frustrações.
Coincidentemente, a editora Mundo Cristão enviou pra gente conhecer o livro “Eu e elas – tudo o que você precisa saber sobre amizades, bullying e panelinhas”, da norte-americana Nancy Rue que é pedagoga e já escreveu centenas de livros infanto-juvenis.
Então, aproveitei para trazer para vocês uma entrevista super completa sobre bullying infantil com a Susana Elisa de Campos Klassen, que é porta-voz desse livro no Brasil. Suzana é professora, autora de vários títulos como o “Patty Palito” e estudiosa do tema.
Mais do que uma simples “brincadeira inocente”, o bullying se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva. Para Susana Elisa, a melhor maneira de evitar que as crianças se tornem agressoras, vítimas ou testemunhas passivas de bullying é promover, desde cedo, a aceitação de diferenças, o respeito à dignidade humana das pessoas, os conceitos de justiça e igualdade e a empatia por outros, especialmente os mais vulneráveis. “A formação desses valores acontece na prática, na maneira como os pais e outras pessoas próximas da criança interagem com o mundo ao redor”, destaca. Veja a entrevista na íntegra:
O que é bullying?
Susana Elisa de Campos Klassen: Bullying não é o desentendimento ocasional entre duas crianças em pé de igualdade. Ele ocorre quando uma das partes é mais fraca ou vulnerável que a outra e é recorrente e deliberado. Entre as crianças, pode assumir a forma de agressão física, na qual uma empurra, belisca, arranha, morde ou bate na outra. Também pode ser verbal, por meio de gozações e apelidos maldosos ou falsas acusações. Por vezes, objetos da vítima (brinquedos, roupas, lanches) são tomados dela ou danificados, ou ela é excluída sistematicamente de brincadeiras ou outras atividades.
Esse tipo de comportamento agressivo e maldoso pode ocorrer já entre as crianças pequenas? É algo comum?
Susana Elisa: Não é raro ocorrer quando grupos de crianças pequenas, de idades, tamanhos, contextos e/ou níveis de aptidão diferentes convivem no mesmo espaço, como em uma creche ou pré-escola. Embora nem toda agressão pontual seja bullying, pode ser precursora desse comportamento caso não haja uma intervenção. As estatísticas variam com local e idade, mas acredita-se que pelo menos um terço das crianças seja vítima de agressão relacional, física ou verbal repetida.
Quais sinais podem indicar que a criança está sofrendo bullying? O que os pais devem observar no comportamento dos seus filhos?
Susana Elisa: Nem sempre a criança pequena saber articular claramente que está sendo vítima de agressão sistemática, mas há alguns sinais claros de que algo não está bem:
- Marcas físicas como arranhões, hematomas ou outros ferimentos que a criança pode ter vergonha de explicar.
- Relutância ou recusa em ir para a creche, pré-escola ou escola. Dizer que “odeia” o lugar e que ninguém gosta dela na escola.
- Queixas de dor de estômago e dor de cabeça, dizer repetidamente que está doente, mudanças no sono e dificuldades na alimentação.
- Objetos danificados ou que “somem” sem explicação.
- Isolamento, mudanças bruscas de disposição ou comportamento.
- Regressão (fazer xixi na cama, chupar o dedo, apegar-se a um objeto, etc.).
Qual o impacto do bullyingquando a criança chega à adolescência e vida adulta?
Susana Elisa: Quando não tratado, o bullying pode ter graves consequências em longo prazo. Pode causar séria distorção na maneira como a vítima se vê e levá-la a concluir que não tem valor pelo simples fato de ser considerada diferente, fraca ou inadequada. Essa percepção com frequência gera perda de autoconfiança, retração, isolamento e expressões fortes de tristeza e agressividade, problemas que se estendem e, por vezes, até se intensificam na adolescência. Na vida adulta, pode contribuir para uma autoimagem negativa, insegurança, complexos de inferioridade e uso de mecanismos compensatórios (ex: necessidade de ser o primeiro, o melhor, o mais forte em tudo) ou uma persistência na vulnerabilidade ao abuso (ex: violência doméstica ou “síndrome de capacho” no local de trabalho).
Quanto à criança que possa estar praticando bullying, quais são as causas mais comuns? Quais comportamentos/ sinais são mais frequentes?
Susana Elisa: A criança que pratica o bullying pode ser impulsiva e ter dificuldade de lidar com seus sentimentos de raiva e frustração, ter aptidões sociais pouco desenvolvidas, ter preconceitos adquiridos no ambiente familiar ou social, ser admirada e até elogiada por “saber o que quer” ou agredir como forma de ser aceita por um grupo (quando várias crianças praticam bullying juntas). É fundamental que sejam investigadas as causas mais profundas desses comportamentos. Não é raro estarem ligadas a questões familiares e, por vezes, a violência e abuso (físico, verbal ou relacional) dentro de casa. Claro que nem sempre o problema é dentro das famílias, mas crianças pequenas aprendem, em grande medida, por pelo exemplo de pessoas ao seu redor. A criança agressora muitas vezes tem uma atitude mandona e controladora, perde a calma com facilidade, prefere brincar com crianças menores ou mais novas, não demonstra preocupação pelos sentimentos de outros, comporta-se de forma agressiva com irmãos ou outras crianças menores e/ou animais de estimação.
Como lidar com essa situação em que os filhos estão praticando bullying?
Susana Elisa: Para lidar com a situação, é preciso identificar e tratar as causas, criar um sistema claro de regras e consequências e tomar medidas para desenvolver na criança empatia e respeito por outros, bem como maneiras saudáveis de lidar com sentimentos de raiva e frustração. Nesse processo, é de grande valor o auxílio de profissionais qualificados, como psicólogos especializados em questões da infância e psicopedagogos. Também é ideal que haja um trabalho conjunto entre pais e educadores e uma ação coordenada com outras pessoas presentes no cotidiano da criança (babá, empregada, parentes etc).
Existe alguma forma de evitar ou proteger o nosso filho de situações de bullying?
Suzana Elisa: Os pais podem ensinar à criança, desde cedo, que alguns comportamentos não são aceitáveis. Para isso, devem explicar de maneira clara quais são esses comportamentos, expressar desaprovação quando o testemunharem, incentivar a criança a contar sempre que presenciar ou sofrer uma agressão (mesmo que pontual/não recorrente), usar situações do quotidiano para ensiná-la a resolver conflitos de modo saudável e trabalhar para construir uma boa autoestima e autoconfiança. Ao colocar o filho em uma escola ou creche, os pais devem conversar com os educadores sobre o código disciplinar e sua aplicação e analisar a atitude de coordenadores e professores em relação a essa questão. Se permitido, devem assistir a uma aula ou passar tempo no ambiente escolar, observando o que acontece na sala e no pátio. Também pode ser proveitoso conversar com os pais de alunos que já estudem na escola para saber como a questão é tratada na prática.
Gostaria de deixar mais algum comentário para nossas leitoras?
Suzana Elisa: Sem extremos de perfeccionismo, é proveitoso que os pais reflitam sobre seus preconceitos (velados ou explícitos), seu modo de tratar pessoas em posição subalterna ou vulnerável, o respeito mútuo como casal e a forma como lidam com a própria agressividade. Dentro dos limites de boa convivência e sociabilização, a criança deve ter liberdade de ser autêntica e saber que é amada e aceita de forma incondicional. Essa é a base para que ela se torne autoconfiante e sensível a outros em futuros relacionamentos.
Adorei as informações e orientações sobre bullying que a Susana Elisa enviou pra gente. Espero que também seja bastante esclarecedor para você!
Beijos, da Mamãe Prática Fabi
Foto: Freeimages.com/ A Syed
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Meu filho de 08 anos sofreu bulling na escola, precisei mudar ele turno, foi uma fase muito difícil, ele precisou frequentar psicólogo, não sei quem sofreu mais, eu ou ele!!
http://www.eueosquatro.blogspot.com
Olá Sílvia,
Imagino que situação difícil. Obrigada por dividir sua história com a gente.
Beijos
Mamãe Prática Mari