Um dos assuntos que mais se fala hoje em dia é o da cama compartilhada (ou coosleeping), quando os pais optam pelo bebê dormir com eles em sua cama, principalmente nos primeiros meses, pois o bebê ainda mama muito durante a noite e, dessa forma, a mãe não precisa ficar levantando para dar de mamar.
A minha opinião sobre isso? No meu caso, eu preferia não dormir com minha bebê na minha cama, pois eu ficava com medo de machucá-la dormindo, já que me viro muito à noite. Além disso, eu sempre achei que seria melhor minha pequena dormir em seu próprio quarto, o que fizemos desde o seu primeiro mês de vida. Então, eu fui aquela mãe descabelada e cheia de olheiras que se levantava 2, 3 vezes durante a madrugada para dar de mamar (e olha que isso foi quase até 1 ano e meio, como já contei aqui).
Só quem é mãe conhece as delícias e as dificuldades da maternidade. Por isso, não estou aqui para julgar ninguém que adota a cama compartilhada.
Mas quero fazer um alerta: o problema é que algumas crianças, acostumadas desde pequenas a dormirem com os pais, podem negar-se a dormir em seus próprios quartos. E isso pode acontecer até os 6 anos de idade, por exemplo, como aconteceu com o filho da nossa leitora Jaidete Maria dos Santos que foi quem sugeriu o tema deste post!
Para ajudar pais que passam por essa situação (já recebemos comentários de mães sobre isso), conversei com a doula, consultora do sono materno e infantil e assessora pós-parto Carolina Prado. Também mãe do Enzo e da Nina, ela esclarece alguns pontos sobre esse problema na entrevista a seguir:
Por que algumas crianças não gostam de dormir nos seus próprios quartos?
Simples, porque elas foram ensinadas de que o certo é dormir em outro lugar e em outra situação. Logo que nascem é muito importante que os bebês fiquem perto dos pais, da mãe, sejam amamentados, tenham colo, sintam a mãe por perto, enfim, desenvolvam um vínculo com essa mãe e pai e possam se sentir amados e seguros em relação ao mundo aqui fora do útero. Tudo aquilo que remete ao útero materno traz essa sensação de “opa, eu gosto daqui”, então é sim muito importante os pais estarem por perto nesses primeiros meses.
Mas o que acaba acontecendo depois desses meses é que os pais, ao tentarem fazer a transição do quarto deles para o berço do bebê, acabam não passando essa segurança necessária, de que tudo bem dormir sozinho, de que dormir sozinho é natural, e eles passam essa sensação de insegurança para o bebê que daí não gosta do berço. Afinal. Eles [os bebês] pensam: “Ai meu Deus, esse negócio de berço deve ser muito perigoso mesmo, pois todas as vezes que choro aqui dentro, minha mãe corre pra me salvar!”.
O hábito de a criança dormir com os pais quando já tem 3, 4 ou até 6 anos de idade pode trazer prejuízos para o seu desenvolvimento? Quais?
Não acredito em posturas que podem fazer mal ou bem, existem sim estudos voltados para diversos lados. Mas acho que cada família tem sua melhor escolha e preferência. Respeito muito a escolha de cada um. Acho que o certo é a família ter a postura que acreditar como a correta, eles [os pais] precisam acreditar naquele tipo de abordagem e nunca praticar tal escolha por falta de opção. Por exemplo, atendo muitas mamães que praticam coosleeping porque mencionam estar cansadas demais para ficar acordando de uma em uma hora. Isso para mim não é coosleeping, porque essa mãe e pai geralmente não estão felizes com a presença da criança ali na cama; praticam por falta de opção.
Os prejuízos em relação às crianças não dormirem bem, tanto na cama dos pais quanto no berço são sempre os mesmos. Existem diversos estudos que mencionam o aumento de crianças com comportamento parecido ao déficit de atenção e hiperativismo [ou hiperatividade], com diabetes infantil, obesidade infantil, problemas de aprendizado e falta de concentração em algumas atividades; enfim, não dormir bem nessa primeira infância influencia uma criança para o resto da vida.
“Não dormir bem nessa primeira infância influencia uma criança para o resto da vida”
O que fazer para mudar esse hábito? Existem técnicas que podem ser aplicadas?
Sim, sempre é possível mudar, mas o desejo deve partir de maneira sincera. Não existe criança que não proteste a mudanças e os pais devem ter consigo a necessidade de mudar tal postura, senão a criança acaba os vencendo pelo cansaço mesmo. Os pais precisam entender a necessidade dessa mudança, os benefícios de uma noite bem dormida e os malefícios de continuarem com um comportamento que não os está fazendo felizes.
“Não existe criança que não proteste a mudanças e os pais devem ter consigo a necessidade de mudar tal postura, senão a criança acaba os vencendo pelo cansaço mesmo”
Essa mudança pode ser traumática? Como fazer para a criança deixar de dormir no quarto dos pais sem traumas?
Existem algumas técnicas e dicas de como tornar esse ambiente do quarto mais prazeroso, de como vinculá-lo a um lugar que remeta segurança a essas crianças e tudo depende da idade e da necessidade de cada caso. E sim as transições do quarto dos pais para a cama em seu próprio quarto, quando bem feitas, são sem trauma algum.
Mamis e papis, estão em dúvida sobre quando deixar o bebê dormir em seu próprio quarto? Acho que o melhor a fazer é se perguntar: como você quer ver seu filho no futuro? Dormindo feliz sozinho em seu quarto? A personalidade da criança e a forma como os pais irão conduzir o assunto poderão influenciar nisso, mas é importante, acima de tudo, que vocês se sintam seguros com a decisão que irão tomar.
OBS: Ilustra este post uma foto de um bebê lindo fotografado pelo nosso parceiro Cristiano Borges. A foto é uma brincadeira, tá gente!? (é claro que bebês dessa idade dormem em berços).
Beijo grande, da Mamãe Prática Mari
Foto abertura: Cristiano Borges Fotografia
Foto entrevistada: Arquivo Pessoal
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