Olá meninas, vocês já ouviram falar na doença celíaca? Atendemos ao pedido de uma leitora, que infelizmente descobriu que seu bebê possui a doença, e trouxemos para vocês detalhes sobre o assunto.
Segundo a gastropediatra Mariana Deboni, médica da unidade de Gastroenterologia Pediátrica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a forma clássica da doença costuma se manifestar entre 6 meses a 2 anos de idade, mas a doença celíaca pode aparecer em qualquer período da vida após a introdução do glúten na dieta. Por isso, nada mais relevante do que nós, mamães, ficarmos bem informadas sobre o assunto.
Vejam a seguir as informações da entrevista sobre a doença celíaca que fizemos com a gastropediatra Mariana, que também é pediatra do corpo clínico do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo (SP).
O que é a doença celíaca
Ela é considerada uma doença autoimune desencadeada pelo glúten em indivíduos geneticamente predispostos. A forma clássica da doença que envolve sintomas como diarreia, dor e distensão abdominal, perda de peso e atraso no crescimento costuma se manifestar entre 6 meses a 2 anos de idade. Atualmente, devido a uma maior conscientização sobre a doença, as formas atípicas se tornaram mais frequentes. Entre os sintomas das formas atípicas podemos citar: baixa estatura, atraso da puberdade e redução da densidade mineral óssea.
A doença celíaca só se manifesta em indivíduos que têm predisposição genética para a doença e que consomem glúten. Por isso, um bebê que consome apenas leite materno não desenvolve a doença. O glúten que a mãe consome não é capaz de sensibilizar a criança.
Existe ainda uma forma mais grave de apresentação aguda, a crise celíaca, que felizmente é rara. Esta se manifesta através de diarreia intensa, distensão abdominal marcante, letargia, desidratação grave, pressão baixa e distúrbios eletrolíticos severos. Esses casos recebem o tratamento inicial durante internação hospitalar.
Os sintomas
A doença celíaca pode aparecer em qualquer período da vida após a introdução do glúten na dieta. Em crianças entre 1 e 3 anos de idade, os sintomas mais comuns são: diarreia crônica, falta de apetite, irritabilidade, perda de peso, vômitos, distensão e dor abdominal. Em casos mais graves pode ocorrer até desnutrição. É necessária a ajuda de um especialista, pois os sintomas podem ser muito semelhantes a outras doenças comuns nessa faixa etária, como alergia alimentar e infecções do aparelho digestivo.
Já nas crianças entre 8 a 13 anos, os sintomas podem ser os mesmos, mas nessa idade também pode ocorrer: baixa estatura, atraso da puberdade e alteração de enzimas do fígado, entre ouros.
Entretanto, ainda existe a forma silenciosa da doença, ou seja, completamente assintomática. Esta é mais frequente em parentes de primeiro grau de pacientes com doença celíaca. Crianças com baixa estatura podem ter a forma atípica da doença. Nas formas silenciosas e atípicas o risco é a longo prazo, pois o paciente fica sujeito a complicações crônicas. É necessário alto grau de suspeição para firmar o diagnóstico.
Como diagnosticar
O diagnóstico pode ser feito em qualquer idade. Porém, em alguns casos pode ser necessário aguardar alguns meses, repetir alguns exames e realizar exames mais sofisticados, como a testagem genética, que é feita por meio de exame de sangue. Isso ocorre particularmente em crianças muito pequenas e pacientes com poucos sintomas. Por isso, diante da suspeita, o melhor é fazer acompanhamento com um gastroenterologista pediátrico.
Para se firmar o diagnóstico, é necessário suspeitar da doença, fazer exames de sangue e confirmar por meio de endoscopia digestiva alta com biópsia de intestino delgado. Todos esses exames estão disponíveis na rede pública.
Já o exame para a testagem genética pode ser feito na rede particular e em centros de referência da rede pública. Vale notar que não é um exame de rotina, mas somente solicitado em casos especiais, ou seja, quando há dúvida ou dificuldade diagnóstica.
Como tratar
A doença celíaca tem como única opção terapêutica a realização de dieta isenta de glúten para o resto da vida, pois até o momento não existe cura. Porém, como é uma doença que atinge pessoas em todo mundo, várias pesquisas e estudos têm sido realizados.
De acordo com a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (Fenacelbra), a pessoa que tem a doença celíaca nunca poderá consumir alimentos que contenham trigo, aveia, centeio, cevada e malte ou os seus derivados (farinha de trigo, pão, farinha de rosca, macarrão, bolachas, biscoitos, bolos e outros).
Neste vídeo divulgado pela Fenacelbra, a nutricionista Noadia Lobão fala sobre o perigo da contaminação cruzada, ou seja, consumir alimentos com glúten que não deveriam conter glúten (como comer um bife fritado em uma mesma frigideira onde anteriormente foi feito um bife à milanesa).
E se não tratar?
A falta de tratamento adequado para a doença celíaca pode levar a consequências como baixa estatura, atraso na puberdade, osteoporose, anemia crônica, depressão, infertilidade, abortos de repetição e câncer de intestino delgado. A baixa estatura está relacionada com alterações no eixo endócrino de crescimento, modificação no metabolismo ósseo e na dificuldade em absorver os nutrientes da dieta.
Se não diagnosticada e tratada, a doença celíaca pode levar a uma série de doenças crônicas que reduzem muito a qualidade de vida e eventualmente podem provocar a morte, como o câncer de intestino delgado.
Cuidados essenciais que os pais devem ter:
1. Fazer em casa e fora de casa dieta isenta de glúten;
2. Garantir que todos os nutrientes continuem disponíveis na dieta da criança;
3. Fazer acompanhamento periódico com especialista.
4. Conscientizar aos poucos a criança sobre a sua condição.
Orientações da Fenacelbra:
• Somente compre produtos alimentícios produzidos em padarias ou supermercados que tenham local separado para produção de alimentos sem glúten, por causa da contaminação ou traços de glúten.
• Separe uma esponja ou bucha para lavar os utensílios de preparação sem glúten. Sempre lave bem toda a louça para não haver contaminação.
• Não reutilize o óleo de frituras de alimentos com glúten, pois ele já está contaminado. Da mesma forma, procure se informar nos restaurantes se o óleo utilizado é novo.
• Não coloque no forno ao mesmo tempo alimentos com e sem glúten.
• Utilize vidros ou vasilhames dosadores para acondicionar geleia, mel, requeijão, maionese, manteiga ou margarina, ou qualquer outro produto de uso comum, evitando assim a contaminação ou traços de glúten.
• Alguns medicamentos podem conter farinha de trigo na composição, procure entrar em contato com o fabricante.
• Aos católicos é sugerida a comunhão na espécie do vinho, já que a hóstia contém glúten.
• Não comer alimentos ou recheios que sejam preparados com glúten e seus derivados.
•A indústria pode modificar a composição do produto, portanto, leia todo o rótulo, antes de adquirir, mesmo sendo um produto que você tenha costume de comprar.
Meninas, esperamos que estas informações ajudem nossas leitoras que possam estar angustiadas com a suspeita ou então a confirmação de que seus filhos têm a doença celíaca.
Dica: temos aqui no blog duas receitas sem glúten: Bolo de Mandioca e Bolo de banana (sem glúten e sem lactose).
Beijos, da Mamãe Prática.
Foto: freeimages.com/Jose Assenco
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