A chegada de um novo bebê na família gera muitas vezes dúvidas e insegurança no filho mais velho. Neste novo artigo, a nossa colunista Ana Flávia Fernandes, do blog Terapia de Criança, analisa a perda da atenção exclusiva dos pais por parte do filho mais velho e o ciúmes que pode ser gerado diante disto . Com a palavra, a psicóloga infantil Ana Flávia:
Uma das grandes preocupações dos pais quando começam a pensar em ter um segundo filho é sobre a relação entre os irmãos, como vai ser a chegada de um novo integrante na família e como fica a cabeça do irmão que nasceu primeiro. Geralmente, essas dúvidas vêm acompanhadas de uma grande expectativa que acaba se transformando na crença do ciúme entre irmãos.
É importante cuidarmos de ideias como: “Tadinho do mais velho, vai ser deixado de lado” e “Estamos precisando de um bebê para alegrar a família”. Isso pode contaminar todo o processo de construção da relação entre os irmãos fazendo com que ela já comece em uma grande competição.
Na cabeça do filho único, ele entende que recebe 100% do que os pais têm para dar. Isso significa ter atenção, cuidado e amor exclusivo.
Ver a barriga da mãe crescer e saber que ali tem um bebê é uma novidade e o filho mais velho pode adorar participar das atividades direcionadas ao irmão mais novo.
Mas, ele pode se cansar dessa novidade e querer de volta o seu lugar de exclusividade na vida dos pais. Conforme o bebê vai crescendo e toda a relação dos pais com esse bebê vai sendo construída, ele percebe que isso não é possível.
É frequente a dúvida de que talvez o bebê seja mais amado que ele e o deixa com muito medo de perder a relação que tem com os pais.
Tomado pela frustração, o filho mais velho pode querer “reivindicar” esse lugar perdido e sabotar a existência do novo bebê. Pode se tornar mais agressivo, bater na barriga da mãe, regredir para um comportamento mais infantil que sua idade, entre outros sinais que demonstram sua insegurança diante da nova situação.
O grande desafio é mostrar ao filho mais velho que o amor está se multiplicando e ajudá-lo a administrar o sentimento de amor pelo irmão e ódio de não ser mais o alvo de amor exclusivo dos pais.
Algumas atitudes dos pais podem ajudar nessa compreensão da criança:
O que fazer para ajudar o filho mais velho
• Ter um tempo particular com cada um dos filhos – é ótimo para se conhecerem melhor e fundamental para reassegurar a criança que seu lugar está garantido. É importante demonstrar que há momentos em que os pais cuidarão dela e outro em que cuidarão do irmão.
• Preparar a criança para a chegada do irmão – deixar que faça perguntas e ouvir com empatia como o filho mais velho se sente é uma forma de envolvê-lo emocionalmente no processo e confirmar que estarão juntos para encontrar maneiras de resolver as situações difíceis que ele pode viver.
• Manter o filho informado – os pais podem ser os mediadores de comunicação entre o bebê e o filho. Contar como o bebê está crescendo dentro da barriga e o que ele está dizendo para o irmão mais velho, faz com que ele se interesse pelo processo de receber e cuidar do irmão.
• Incluir a criança no processo – o irmão mais velho pode ser o maior parceiro dos pais nessa construção da nova realidade da família. Por exemplo, ele pode ajudar a fazer a lista do enxoval para o bebê, tirar e colocar os produtos no carrinho e participar da organização desse material no quarto do irmão.
• Sinalizar e manter regras – as crianças observam tudo o que acontece ao seu redor e desenvolvem rapidamente um senso de justiça. Para elas, isso se traduz em serem tratadas igualmente. Por isso é tão importante mostrar que existem as regras e que elas funcionam da mesma forma para os dois irmãos.
A percepção de que o amor não é tirado de um irmão para dar ao outro faz com que a criança sinta a confiança de que é capaz de suportar a frustração de não ter exclusividade o tempo todo.
Esse limite firme e amoroso será fundamental para ela aprender a desenvolver o respeito e generosidade não só com a família, mas em todas as suas relações sociais.
Psicóloga Infantil com especialização em Psicodrama, Ana Flávia Fernandes atende as crianças e suas famílias há muitos anos. “Para cuidar bem dos pequenos, também é preciso cuidar dos adultos a sua volta”, explica. Muito querida e atenciosa, ela também nos brinda com a sua sabedoria e experiência clínica no blog Terapia de Criança.
Beijos, da Mamãe Prática Mari.
Foto: Mimo Fotos
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