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Mamãe no Divã: Como lidar com o fantasma do “não”

Queridas leitoras, o texto deste mês da psicóloga Dery Leão é sobre um assunto que aflige muitos pais: dizer não aos filhos. Ela exemplifica situações vividas por algumas mães e explica a importância de dizermos “não” aos nossos filhos. Vale a leitura deste artigo muito esclarecedor! Com a palavra, Dery Leão:

O fantasma do “não”

Gostaria de convidar todos vocês, mamães e papais, para uma conversa a respeito do medo de frustrar os nossos filhos! Sim, recebo muitos pais que ao dizerem “não” aos seus filhos sentem-se muito culpados e malvados. Eles têm a fantasia de que possam estar causando algum dano no desenvolvimento da criança.

E vocês, o que pensam a respeito? Quantas vezes disseram “não” e se sentiram culpados? Quantas vezes não sustentaram o seu “não” e voltaram atrás?

Isso acontece porque, geralmente, os filhos reagem de forma agressiva à negação dos pais: fazendo birra, chorando, gritando, dizendo que não gostam mais da mamãe ou do papai (na realidade, ficam muito bravos com a pessoa que diz não). Nessas horas, percebo que os pais se sentem muito culpados e com medo de perder o amor dos filhos.

Vamos lá! Certamente não vamos dizer “não” para qualquer coisa ou desnecessariamente, pois é bem mais fácil dizer sim, não acham?

Algumas situações…

Lembro-me de uma situação em meu consultório em que uma mamãe não tinha condições financeiras de pagar um passeio na escola do seu filho, pois estava passando por uma crise financeira. Ela realmente estava se esforçando muito para manter os compromissos, porém não podia arcar com despesas extras. Claro que seria muito gratificante para ela ter oferecido o passeio ao filho, mas, naquele momento de vida, não foi possível. O que foi muito relevante nesse episódio foi o sofrimento da mãe!

Outra situação aconteceu quando uma mãe se esqueceu de enviar um livro de leitura para a escola do filho de quatro anos de idade. Ela também se sentiu muito culpada, pois o filho ficou muitíssimo bravo com ela. Perguntei como a escola agiu diante da situação e ela me respondeu que mais duas crianças não levaram o livro, por isso, a professora providenciou um livro extra para os três lerem juntos.

A criança quer um brinquedo e chora, faz birra, se joga no chão. Quer comer doce antes das refeições ou a todo o momento. Estas são situações simples ou mais complexas do cotidiano, não é mesmo? Enquanto você lê este texto, lembra-se de alguma situação em especial? Como se sentiu? Teve receio ou dúvidas para dizer não ao seu filho? Achou que poderia frustrá-lo e causar transtornos futuros no seu desenvolvimento? Ou que ele poderia ficar traumatizado? Pois bem, o fato é que estas e outras questões mobilizam o medo de dizer “não” aos filhos.

Como agir

Como já disse, é muito importante sabermos claramente o que pode e o que não pode e este processo precisa ser muito bem conversado e alinhado entre os pais, pois ambos precisam falar a mesma língua para que as crianças, jovens e adolescentes sintam-se seguros. Desta forma, os seus “nãos” serão consistentes e legítimos e também terão o sentido de educar, proteger e cuidar. Os “nãos” podem ser ditos com firmeza, mas também ternura e amor.

É interessante saber que os “nãos” são oportunidades para novas possibilidades, para o desenvolvimento da criatividade. Ou seja, não basta dizer o “não”, é preciso mostrar o sentido, o motivo, a coerência, usando sempre a linguagem da criança de acordo com a idade. A partir daí, abrem-se alternativas, isto é, não pode isso, mas pode tantas outras coisas.

No caso em que citei acima sobre o passeio da escola, a mãe poderia dizer ao filho o quanto gostaria de oferecer o passeio a ele; o quanto o ama mesmo não sendo possível atendê-lo naquele momento; que podem pensar em outros passeios. Isso não significa dourar a pílula ou compensar a situação, mas sim mostrar o que é possível fazer.

Quanto ao caso do esquecimento do livro, é de fundamental importância que os filhos compreendam que os pais também falham, mesmo amando-os e sem a intenção de falhar, mas que isso faz parte da vida. O desdobramento desta percepção é importante para o desenvolvimento da habilidade da criança de lidar com seus próprios erros no futuro. Com isso, ela aprende que sempre dará o melhor de si, assim como seus pais, e se errar não irá se punir, mas tentará reparar e corrigir seus erros. Essa atitude trará menos rigidez e mais flexibilidade, generosidade e criatividade para consigo mesma e para o mundo.

Aprendendo com o “não”

O “não” também nos ensina outras atitudes, como saber esperar, ter paciência, persistir e ter determinação. Vocês conhecem a metáfora do Bambu Chinês? Acho que ela conversa conosco a respeito…

Depois de plantada a semente do Bambu Chinês nada se vê por aproximadamente cinco anos, exceto o lento desabrochar de um diminuto broto, a partir do bulbo. Durante este período, todo o crescimento é subterrâneo, imperceptível, invisível. No entanto, uma maciça e fibrosa estrutura de raiz, que se estende vertical e horizontalmente pela terra, está sendo construída. Ao final do quinto ano, o Bambu Chinês  aparece, crescendo com força e atingindo a altura de 25 metros. Depois de crescer, aparecer e chegar “às alturas”, ele é capaz de se curvar até o chão diante de um vendaval. Tão logo cessa o perigo, reergue-se majestoso como sempre.

Então, utilizando esta metáfora, diria que nossos “nãos” são sementes que ajudam os nossos filhos a desenvolver a habilidade em lidar com os reveses da vida; com as dificuldades que a vida nos impõe sem nos pedir licença. E mesmo sem estarmos totalmente visíveis, estamos ajudando-os a criar uma estrutura firme e flexível, onde eles poderão cair e se envergar, mas também se levantarão e sobreviverão, sentindo-se cada vez mais fortes ao perceberem que são resilientes às intempéries da vida.

Nesse momento, estou me lembrando de um homem de 50 anos que atendo em meu consultório e que tem muita dificuldade em lidar com frustrações, me dizendo o seguinte: “Sabe Dery, eu fui uma criança que tive de tudo, fui criado pela minha mãe e meus tios. Fui paparicado por todos de modo que nunca tive que brigar, espernear, lutar, buscar pelo que eu queria… Eu recebia tudo o que eu queria sem nenhuma dificuldade. Hoje sei que o que eu deveria ter aprendido lá atrás, preciso aprender agora… Mesmo que as pessoas me ajudem, eu preciso caminhar este caminho por mim mesmo!”. Para mim, esta consciência é comovente, pois ele precisa germinar e desenvolver sua semente neste momento da vida. Isto é possível, mas bom seria se este processo tivesse sido iniciado desde a infância.

Por essa razão, convido todos a refletirem sobre o sentido dos nossos “nãos” e o quanto eles nos estruturam até mesmo para apreciarmos plenamente os tantos “sins” que a vida nos oferece. Por isso, é importante encarar esta tarefa de, às vezes, frustrar nossos filhos como um ato de coragem e enfrentamento da vida.

Gostaria muito de agradecer a companhia de vocês para mais uma reflexão e aguardo com muito prazer e carinho o compartilhamento de suas experiências e reflexões.

O meu abraço afetuoso,

Dery Leão
dery.leao@gmail.com

Dery Leão é psicóloga, especialista de Terapia de Família, Casal e Indivíduo pela PUC de São Paulo (SP). Mãe da Brenda, de 20 anos, ela adora o desafio da maternidade, pelo fato da necessidade de se transformar como mãe à medida que sua filha se transforma também. “É uma experiência fantástica e instigante ! A gente cresce à medida que os filhos crescem…”, afirma.

Também perguntamos a ela o que mais gosta da maternidade, vejam que linda a sua resposta: “É a oportunidade que tenho de me rever como filha, ponderando os papéis de mãe e filha, ou seja, através da maternidade consigo ser um ser humano melhor.”

Nas suas horas vagas, Dery gosta muito de cozinhar e de receber amigos, além de  ler um bom livro, assistir filmes, ir ao teatro, cinema e a shows. E agora ela também dedica uma pouco de seu tempo para escrever às leitoras do Mamãe Prática.

Mamães, gostaram do tema? Fiquem à vontade para enviar as suas perguntas e dúvidas para a especialista, para o e-mail: dery.leao@gmail.com

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6 comentários sobre “Mamãe no Divã: Como lidar com o fantasma do “não”

  1. Amei este post, adorie as dicas, obrigada por compartilha-ló conosco.

    Tri-beijos Desirée
    http://astrigemeasdemanaus.blogspot.com.br/

    1. Valeu Desirée! Também adoramos a reflexão e as dicas da psicóloga Dery! Espero que seja bastante útil aí na sua casa, bjssss para vc e as pequenas, Fabi

    2. Obrigada Desirrée!!!! Fico feliz em compartilhar contigo! Sinta-se à vontade para sugestões de temas para os próximos textos. Grande beijo e o meu abraço carinhoso.

  2. Dery, como sempre, é de uma sabedoria suas palavras, que chegam a comover e contagiar!!! Tive o prazer de conhecer essa pessoa maravilhosa pessoalmente e agora e aqui, digo a todas as leitoras do Mamãe Prática, que vale a pena fazer terapia, e um tempo que tiramos para nós, para nos conhecermos melhor, ainda mais quando nos identificamos com a Psicóloga e ou terapeuta!!! Comigo foi assim, primeiro tive receio, depois conheci a Dery Leão e me apaixonei pelas sessões e pela profissional, esplendorosa!!! Bjus

    1. Que lindo depoimento Vanessa! Estamos muito felizes com a presença da Dery no nosso blog! Aprendemos muito com ela a cada novo post. Obrigada pelo depoimento, continue acompanhando nosso blog. Bjs Mari

    2. Vanessa querida!!!! Obrigada por existir e ter me dado a oportunidade de compartilhar seus tesouros. Você é um ser humano raro! Beijo enorme e muitas saudades.

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