Falar de sexualidade com os filhos ainda é um tabu pra muita gente, mas com informação e algumas dicas fica mais fácil entender sobre o tema e descobrir a melhor maneira de lidar com o assunto dentro de casa. É sobre isso que temos o prazer de divulgar hoje o artigo da nossa querida colunista, a psicóloga Dery Leão. Com a palavra, Dery:
Sexualidade infantil
Queridos leitores, gostaria de fazer um convite para conversarmos um pouco sobre o tema sexualidade infantil. Em primeiro lugar, vamos refletir sobre o que é sexualidade?
Quero começar dizendo o que não é sexualidade: sexo não é sexualidade!
Geralmente, esta é a primeira confusão que fazemos ao pensar em sexualidade porque, na verdade, este é um mito que nos atrapalha ao lidarmos com o assunto. Sexo faz parte, mas não é sexualidade. E sexo vai ser incluído na vida do indivíduo a partir da adolescência, pois é nesta fase que os hormônios sexuais começam a ser produzidos na hipófise (região do cérebro) e surge então o desejo sexual.
Então, gostaria de dizer que sexualidade é algo muito abrangente; é nossa energia vital, que está acontecendo o tempo todo e está em todos os lugares. Sexualidade significa como eu aprendo a me relacionar comigo mesma, com as pessoas e com o mundo que me cerca. Como eu aprendo a me comportar como menina ou como menino, enquanto papel social e minha própria identidade. Ao mesmo tempo, é o valor que aprendemos a ter em relação a nós mesmos, como pessoas, o valor humano, ou seja, é a transmissão de todos os valores familiares para nossos filhos.
É um instrumento relacional valioso, que nos utilizamos desde a vida intrauterina, pois estamos em relação desde esta fase. O que gostaria de enfatizar é que não há uma determinada data para iniciarmos uma conversa com nossos filhos sobre sexualidade, nem mesmo quando eles começam a nos perguntar de onde vêm os bebês é que este tema se inicia… Gostaria de passar a ideia e conceito de que sexualidade está relacionada com os nossos afetos; como nos relacionamos e como somos impactados pelos relacionamentos.
Quando falamos sobre sexualidade
Diversas situações representam momentos em que estamos falando de sexualidade com nossos filhos, por exemplo:
- Quando converso com meu filho de forma respeitosa e carinhosa
- Quando estou me relacionando com meu parceiro e meu filho observa este modelo
- Quando ensinamos nossos filhos a cuidar de seu corpo e de sua integridade
- Quando ensinamos nossos filhos o valor do trabalho, do respeito, da honestidade, da verdade
- Quando não falamos sobre determinados assuntos, estamos passando um valor de que aquele assunto é proibido ou errado
Dessa forma, podemos dizer que sexualidade é experiência de vida e essa experiência de como estar no mundo e consigo mesmo começa no seio familiar com a transmissão de valores.
Valores que norteiam sua família
Quais são os valores que você – mamãe ou papai – recebeu e quer transmitir para seus filhos? Se eu pensar que sexualidade tem a ver com a forma que aprendo a me relacionar e que me relaciono a partir dos valores que carrego comigo, preciso refletir sobre o que carrego e o que quero transmitir para meus filhos.
Convido-os a investigar dentro de si mesmos quais foram esses valores transmitidos e a selecionar quais valores vocês concordam e quais não concordam para transmitir os que realmente acreditam. Todos esses valores estão inseridos na sexualidade.
Desta forma, vocês se sentirão mais seguros na educação dos seus filhotes.
Como as crianças descobrem seus órgãos genitais
Por volta dos dois anos, mais ou menos, a criança liberta-se das fraldas, aprendendo a fazer xixi e coco no banheiro. Com isso, o órgão genital fica mais exposto e a criança passa a ter esse contato, ou seja, olha, toca, manipula, com o intuito de conhecer-se. Nesta fase também aprende a controlar os esfíncteres, o que é muito prazeroso para criança, porque ela começa a controlar seu próprio corpo; ela está desenvolvendo o sentimento de poder, no sentido de “eu posso”, “eu sou capaz”. Nessa hora, estamos ajudando nossos filhos a desenvolver o valor de autonomia, de capacidade e de autoconfiança.
Nesta fase passamos também o valor do que é público e o que é privado que são valores importantes enquanto cidadãos.
Descobrindo as diferenças
Bem, no primeiro momento cada um descobre seu próprio órgão genital, depois, por volta dos três ou quatro anos, descobrem que os outros também têm. Agora com uma grande diferença: as meninas são diferentes dos meninos! As meninas têm vagina e os meninos têm pênis! A curiosidade os leva a querer olhar os órgãos genitais um do outro. Experiência importante para desenvolver as diferenças entre as pessoas, as culturas, o discernimento do que é certo e o que é errado; do que posso e não posso.
Dos cinco aos sete anos a criança tem muito medo de mudar de sexo, ou seja, de menina passar a ser menino e vice versa, pois não podemos esquecer que a criança está construindo sua identidade; sua imagem corporal; seu lugar no mundo. Ela pensa que o que a define é seu nome, suas roupas, como as pessoas a tratam. Está construindo a resposta de uma pergunta que nos acompanha por toda a vida… Quem sou eu?
Aos sete anos acontece o fenômeno que chamamos de Internalização da Moral, ou seja, descobre que não vai mudar de gênero e internalizou valores importantes de vida transmitidos pela família e sociedade, podendo pensar por si mesma e tendo consciência do que é certo e do que é errado.
O modelo
Por volta dos oito anos de idade as meninas ficam muito próximas das mães e os meninos dos pais. Sabem por quê? Na verdade penso que a pergunta é para que? Para introjetarem ainda mais as diferenças de gênero. Isto significa que o menino tem o papai como sua referência do que é ser homem e a menina a mamãe do que é ser mulher!
Muito bem, para não alongar sua leitura, pretendo continuar este tema no próximo post , me aprofundando mais e abordando outras facetas do assunto, como as angustias pertinentes a cada fase, a masturbação, como responder a algumas perguntas naturais em cada fase etc. Gostaria também de receber suas sugestões, perguntas, curiosidades para continuarmos nossas conversas.
O meu abraço carinhoso,
Dery Leão
dery.leao@gmail.com
Dery Leão é psicóloga, especialista de Terapia de Família, Casal e Indivíduo pela PUC de São Paulo (SP). Mãe da Brenda, de 20 anos, ela adora o desafio da maternidade, pelo fato da necessidade de se transformar como mãe à medida que sua filha se transforma também. “É uma experiência fantástica e instigante ! A gente cresce à medida que os filhos crescem…”, afirma.
Também perguntamos a ela o que mais gosta da maternidade, vejam que linda a sua resposta: “É a oportunidade que tenho de me rever como filha, ponderando os papéis de mãe e filha, ou seja, através da maternidade consigo ser um ser humano melhor.”
Nas suas horas vagas, Dery gosta muito de cozinhar e de receber amigos, além de ler um bom livro, assistir filmes, ir ao teatro, cinema e a shows. E agora ela também dedica uma pouco de seu tempo para escrever às leitoras do Mamãe Prática.
Mamães e papais, o que acharam do tema? Fiquem à vontade para deixar seu comentário e para enviar as suas perguntas e dúvidas para a especialista, para o e-mail: dery.leao@gmail.com
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