A obesidade infantil é um problema mais comum do que se imagina. Ela atinge famílias em todo o mundo, e das mais variadas classes sociais. No Brasil, as crianças que sofrem com essa realidade vivem tanto nas grandes cidades quanto em regiões bastante remotas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 33,5% das crianças sofrem de sobrepeso ou obesidade no País.
Esse é um assunto de saúde pública, conforme descreve e apresenta, de forma brilhante, o documentário Muito além do peso, dirigido por Estela Renner e produzido pela Maria Farinha Filmes. Recomendo aos pais que assistam ao filme de forma crítica, mas desprovidos de preconceito. Longe de querer julgar os pais que têm seus filhos nessas situações, já aviso que o documentário é de arrepiar os cabelos daquelas mães preocupadas em fazer seus filhos comerem de forma saudável.
Entretanto, algumas questões precisam ser levantadas. Se uma mãe deixa sua filha de 9 anos chegar a 62 quilos, ela pode ser considerada uma mãe negligente? Se um pai deixa seu filho de 4 anos atingir tamanho sobrepeso, gerando problemas em seu coração e pulmão, este também seria um pai negligente? Caberia às escolas públicas brasileiras orientarem as famílias para a alimentação saudável?
Na minha opinião, o buraco é bem mais embaixo. Podem existir aí famílias cujos pais tiveram uma infância difícil, sem fartura, e que hoje querem oferecer aos seus filhos tudo o que não tiveram. Podem existir aí pais culpados pela sua ausência, e que tentam supri-la dando tudo que o filho quiser comer. Mas também pode haver milhares de pais cuja própria alimentação é pobre em vitaminas e rica em calorias vazias. Como ensinar ao outro se você mesmo não sabe ou prefere não aprender a comer de maneira correta e equilibrada?
A falta de informação e os equívocos relacionados à alimentação ocorrem tanto em famílias de pouco quanto de muito poder aquisitivo. Basta olhar com mais atenção para perceber que alguém próximo a você simplesmente não toma água, pois a substituiu há muito tempo por refrigerantes. Segundo o documentário, as bebidas açucaradas (refrigerantes e sucos industrializados) podem levar à obesidade infantil, já que, nas crianças, elas representam um acréscimo de 250 kcal por dia. É espantosa a quantidade de açúcar que existe em uma lata de refrigerante.
A lógica é simples: quanto mais calorias consumimos em excesso e não as gastamos, mais quilos vamos acumular ao longo dos anos. Essa matemática é cruel tanto para os adultos quanto para as crianças. Conforme descrito no filme, se consumirmos um excesso diário de 100 calorias, poderemos engordar até quatro quilos por ano.
O fato é que as crianças estão consumindo besteiras demais. Desacostumadas a comerem legumes, frutas e verduras, elas não acham a menor graça nesses alimentos, passando a negá-los. Os pais não enfrentam a difícil e trabalhosa tarefa de treinar o paladar dos filhos e passam a optar pelos produtos industrializados – seja pela preguiça de cozinhar, seja para satisfazerem o desejo de consumo dos pequenos, que “exigem” o suco de caixinha que viram na propaganda com o seu personagem preferido. E aí chegamos à assombrosa constatação feita pelo documentário de que, para comer frutas na escola, as crianças estão se escondendo no banheiro, pois sentem vergonha de fazer isso na frente dos coleguinhas!
“E aí chegamos à assombrosa constatação feita pelo documentário de que, para comer frutas na escola, as crianças estão se escondendo no banheiro, pois sentem vergonha de fazer isso na frente dos coleguinhas!”
Outro fato lamentável é que essas calorias em excesso estão cada vez mais difíceis de serem eliminadas. E isso você também pode observar facilmente em casa. Como é mais “legal” brincar no computador, nos tablets e smartphones, além de “curtir” os amigos nas redes sociais, ninguém mais quer sair de casa para brincar de pega-pega ou esconde-esconde. Com o medo da violência nas ruas, os pais preferem vê-los quietinhos, em seus quartos.
Enquanto as crianças continuarem preferindo as calorias vazias e trocarem almoço por macarrão instantâneo, bolachas ou afins (e os adultos forem complacentes com isso), as taxas de obesidade infantil não vão diminuir. Enquanto as crianças continuarem brincando com seus polegares e os pais não se esforçarem para mudar isso, vamos continuar nos assustando com casos como o de uma menina de 9 anos que chegou aos 62 quilos, com hipertensão, diabetes tipo 2, colesterol e triglicérides alterados.
Para uma mãe que se preocupa com a alimentação de seu filho, casos como este podem parecer absurdos, mas para uma boa parcela da população brasileira talvez falte discernimento, afinal 56% dos bebês tomam refrigerante frequentemente antes do primeiro ano de vida, segundo também revelou o documentário.
O que você achou deste post? Como é alimentação na sua casa? Fica a dica para assistir ao filme que está disponível integralmente na internet – basta clicar aqui. Depois me conte o que você achou do documentário.
Beijos, da Mamãe Prática Mari
Foto: Divulgação
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