Se você, como eu, tem um filho super mega agitado, que sobe em tudo e não fica parado um minuto sequer, talvez já tenha se perguntado se ele é hiperativo ou já ouviu algum comentário do tipo “como seu filho é elétrico!”.
Falar que a criança é hiperativa é um comentário comum e recorrente nas melhores famílias (risos), mas existe uma grande diferença entre a criança ser muito agitada e receber o diagnóstico de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Isso porque a hiperatividade corresponde a um transtorno, ou seja, traz prejuízo para a vida do paciente. Dessa forma, crianças que são mais elétricas ou agitadas não devem ser denominadas hiperativas.
Para entender melhor esse assunto, fiz uma entrevista com a neurologista infantil Silvana Frizzo, da Clínica MedPrimus. Ela explica que o TDAH se caracteriza por um padrão persistente de falta de atenção, hiperatividade e impulsividade, reações que podem ser isoladas ou juntas. “Esses comportamentos são mais comuns e severos do que nos indivíduos do mesmo nível de desenvolvimento, mas que não têm esse problema”, diz Silvana.
Principais características de uma criança com TDAH
- Déficit de atenção
Estes são os principais sinais que os pais observam e comentam sobre a criança: parece não ouvir; não consegue terminar as tarefas; sonha acordado; costuma perder as coisas; não consegue se concentrar; distrai-se com facilidade; evita fazer a lição de casa; tem dificuldade para organizar tarefas; muda de uma atividade incompleta para outra; comete erros por distração. - Impulsividade
A criança apresenta dificuldade de controlar o que faz ou fala. Por exemplo: tem pressa em responder a uma pergunta ainda não concluída; tem dificuldade para esperar a sua vez; interrompe ou se intromete na conversa de outras pessoas. Geralmente, esses sinais são mal interpretados e associados à imaturidade ou falta de autocontrole. As pessoas costumam dizer, por exemplo, que a criança é impaciente, interrompe as pessoas, não deixa as pessoas falarem e perturba o ambiente com palhaçadas. - Hiperatividade
A criança parece estar sempre ligada e em movimento. Geralmente os pais comentam que ela age como se tivesse um “motorzinho”, sobe em tudo, não consegue ficar sentado sem se mexer, fala demais, sai do quarto antes de terminar de se vestir.
Quando procurar ajuda
Geralmente o TDAH é percebido quando a criança entra no Ensino Fundamental, por volta dos 5 anos, mas muitas vezes ela já apresenta sintomas quando mais nova. Para a neurologista infantil, é importante procurar ajuda quando se percebe um prejuízo no desempenho escolar e nas interações sociais. “Quando os pais comentam que o filho não tem amigos, pois ninguém o aguenta”, exemplifica Silvana.
Diagnóstico
Vale dizer que não existem exames para diagnosticar TDAH, pois o diagnóstico é clínico, ou seja, o médico avalia os sintomas relatados pelos pais e pela escola. “Alguns questionários ajudam a concluir o diagnóstico, por isso, geralmente solicito que a mãe/ pai os preencham e que na escola diferentes professores os preencham também. Assim temos uma visão mais abrangente do comportamento da criança nas diversas situações de vida”, diz a médica.
TDAH x Criança muito agitada
No caso do TDAH, os sintomas estão presentes em duas ou mais situações de vida da criança (ex: escola, casa, condomínio, academia ou clube) e causam comprometimento significativo da vida social e escolar. Nas crianças mais elétricas sem o transtorno, elas conseguem ficar paradas nas situações que gostam e têm interesse. “Por exemplo, se o comportamento é agitado na sala de aula, mas em casa fica quieto jogando videogame, o diagnóstico de TDAH é pouco provável. Quem tem o transtorno não consegue realizar adequadamente nem mesmo as coisas que gosta”, explica Silvana.
A genética
O TDAH é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e geralmente acompanha a pessoa por toda a vida. “A herdabilidade média estimada do TDAH é de 76%. Os genes associados ao transtorno codificam receptores de neurotransmissores ou transportadores de neurotransmissores. Assim, merece tratamento, conhecimento e envolvimento por parte dos pais e da escola”, diz Silvana.
Como tratar
Para a neurologista infantil, a melhor forma é o tratamento combinado (medicamentoso e terapia comportamental intensiva). A terapia com um psicólogo ajuda a diminuir a necessidade de medicação, pois o paciente aprende a perceber seus sintomas e contorná-los, podendo a medicação ser suspensa. No caso dos adultos com TDAH mais leve, métodos de ioga e meditação são recursos que ajudam alguns pacientes a contornarem os sintomas.
Porque tratar
Quando não tratado, o TDAH pode prejudicar o desempenho da criança em todos os âmbitos da vida: na escola, em casa e até em situações de convívio social. Segundo a médica, aqueles que apresentam impulsividade e hiperatividade podem evoluir para uma adolescência complicada assumindo, por exemplo, comportamentos de risco (como abuso de drogas e sexo desprotegido). E na vida adulta podem apresentar dificuldade de se manterem em empregos e nos relacionamentos. “Aqueles com déficit de atenção que acabam com desempenho escolar ruim, abandonam os estudos, e com sentimentos de menos valia também poderão ter prejuízos”, explica Silvana.
Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o transtorno ocorre em 3 a 5% das crianças, em várias regiões diferentes do mundo em que já foi pesquisado. No site da entidade, encontrei esse vídeo com depoimentos de pessoas com TDAH, pais de crianças com o diagnóstico, profissionais de saúde e educação.
Espero que essas informações ajudem a esclarecer o tema e sejam úteis para vocês! Vale lembrar que é sempre importante procurar um profissional de saúde para avaliar caso a caso.
Beijos, da Mamãe Prática Fabi
Foto: Freeimages.com/Torvald Lekvam
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